Regime Plástico

Definição: para a Resistência dos Materiais, o regime elástico é aquele em que um corpo deforma sob um determinado esforço e, ao final deste esforço, ele volta para sua forma original. Já o regime plástico é aquele que, quando um corpo é submetido a um esforço maior do que seu módulo de elasticidade, deforma para não mais voltar a mesma forma inicial.

Simplificando: você estica um elástico de dinheiro. Assim que você o solta ela volta ao seu comprimento inicial. Este é o regime elástico. Já se você esticar uma sacola plástica de supermercado, provavelmente ela vai se deformar e não mais voltar a sua forma inicial. Este é o regime plástico.

Mas o regime plástico que quero falar aqui é outro.

A sacola plástica que usamos acima no exemplo, geralmente, é menos usada que isso. Costuma ter uma vida útil média de 15 minutos. Aliás, mais de 40% dos plásticos produzidos em todo o mundo são utilizados apenas uma única vez antes de serem jogados fora. Por falar nisto, o destino final favorito dos plásticos são os oceanos: 8 milhões de toneladas todo ano. A campanha Mares Limpos, da ONU, estima que em 30 anos teremos mais plástico que peixes nos oceanos. Todo o plástico produzido pela humanidade nos 150 anos de invenção do plástico ainda estão por aí, em algum lugar, e só um quinto dele é reaproveitado. Metade do que fora produzido em toda a história do plástico tem origem em cinco países: China, Indonésia, Filipinas, Vietnã e Sri Lanka. E de todo o plástico produzido até hoje, metade dele foi fabricada – pasmem – nos últimos 15 anos.

Tem mais: estima-se que cerca 8,3 bilhões de toneladas deste material foi produzida até hoje, e 6,8 bilhões de toneladas viraram resíduos, sendo que 5,7 bi/ton nunca passou por qualquer tipo de tratamento. E, considerando que este material tem um período previsto de degradação de 450 anos a nunca, estamos em um regime plástico de poluição. Neste quesito, não voltaremos mais ao planeta que éramos antes.

O plástico que vai aos oceanos começa a ser desintegrado por raios solares. É quebrado em moléculas tão pequenas que ficam quase microscópicas. Aí vêm os nutrientes marinhos e se aglutinam nestas partículas plásticas, criando uma cobertura sobre eles. Viram uma espécie de sonho de valsa com recheio de plástico. Ou melhor, um Kinder Ovo. Os seres marinhos, apaixonados por sonhos de valsa, comem o bombom plástico achando que estão comendo uma baita quantia de nutrientes. Comem e não se satisfazem. Continuam a comer, afinal, a fina camada de comida não é suficiente para suprir suas necessidades vitais, até que em algum momento eles morrem por intoxicação. Regime plástico, no sentido de dieta.

Até agora não se tem provas de que estes plásticos afetarão os seres humanos, porque as partículas ingeridas pelos seres marinhos são tão pequenas – algo em torno de 5mm ou menos, que ficam presas no sistema digestivo dos animais, e não são passadas à carne deles. Mas, ainda sim, é preciso fazer algo. E algumas pessoas já estão fazendo.

Na Noruega, 97% das garrafas plásticas são recicladas. Conseguiram esse número expressivo com o pagamento de USD 0,32 por garrafa retornada às máquinas recicladoras, existentes em supermercados.

Na Dinamarca, utiliza-se cerca de quatro sacolas plásticas por ano. Nos EUA, 100 bilhões (quase uma por habitante por dia), 10% do que é  consumido pelo mundo por ano (1 trilhão de unidades). Ainda sobre os EUA, o consumo de canudos plásticos por habitante é de cerca de 1,5 por dia. Canudo este que tem uma vida útil de uma bebida (uns 10 minutos, no máximo, sendo otimista) e vai levar 4,5 séculos para começar a sumir. A tal relatividade do tempo.

O Reino Unido tem estimulado os produtores a venderem produtos a granel, sem plástico, e estudam taxar os plásticos de uso único. A ideia deles é de extinguir o uso de plásticos comuns em 25 anos. A partir daí só bioplástico, que se degrada rapidamente, feitos, por exemplo, com cera de abelha.

A China, por sua vez, maior produtora de plástico, tem comprado nos últimos 30 anos metade do plástico produzido no mundo inteiro.

ONGs se inventam ao redor do mundo e vem fazendo um bom trabalho. A 4Ocean, por exemplo, cria pulseiras com materiais extraído dos oceanos por voluntários (mergulhadores, biólogos, oceanógrafos, etc). Cada pulseira custa USD 20,00 e corresponde ao pagamento da remoção de cerca de 450 g de lixo marinho.

Nós também estamos ajudando. O Brasil recicla, em média, 20% do plástico produzido. Mas podemos evitar o consumo e desperdício. Canudos plásticos, por exemplo, geralmente são usados apenas fora de casa. Podemos não os usar por completo. Assim como não usar copos descartáveis, sacolas de supermercado (em excesso, pelo menos) e separar nosso lixo para facilitar as recicladoras.

Caso contrário, em um futuro próximo estaremos comendo plástico com cobertura da mesma forma que os seres marinhos, pescados na ilha de plástico existente no meio do Pacífico. Este não é um regime que eu esteja disposto a fazer.

*Fonte: National Geographic Brasil – Ed. 06.2018